O Coração
Imaculado de Maria e as Nações
«Prova das graças que concederia às outras Nações,
se Lhe tivessem sido consagradas».
Irmã
Lúcia
Consagrados os
indivíduos, consagradas as famílias importa ainda que ao Imaculado Coração de
Maria
se
consagrem as Nações, como garantia de salvação e de paz.
A respeito da
Rússia foi bem categórica a afirmação de Nossa Senhora, como já vimos, mas ela
vale para todas as Nações.
Copiemos de uma carta da Irmã Lúcia, escrita a 2 de
Dezembro de 1940: «Em 1929 Nossa Senhora por meio de outra aparição, pediu a
Consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração, prometendo por este meio impedir
a propagação dos seus erros e a sua conversão».
E referindo-se a
Portugal, diz que Nosso Senhor prometeu, em atenção à Consagração que os
Prelados Portugueses fizeram da Nação ao Imaculado Coração de Maria, uma
protecção especial, durante a última guerra e que esta protecção era «a prova
das graças que concederia» às outras Nações, se como ela lhe tivessem sido
consagradas».
Com todo o direito
de Soberana pede Maria Santíssima esta Consagração. Cristo é Rei universal dos
povos como bem alto o proclamou Pio XI, ao estabelecer a festa de Cristo Rei.
Logo tem direito de que a Seu lado se assente como Rainha, Sua Mãe Santíssima.
Também o proclamou solenemente Pio XII, ao consagrar ao Seu Coração Imaculado o
mundo inteiro e mais tarde na Mensagem radiofónica, por ocasião da Coroação de
Nossa Senhora de Fátima.
Já no último
capítulo da primeira parte deste livro, ouvimos essas palavras de Pio XII e aí
ficou demonstrado este direito soberano do Coração da Rainha dos Céus e da
Terra.
Agora instamos no
dever e necessidade que têm as Nações de reconhecer e aceitar alvoroçadamente
este amoroso domínio, consagrando-se a Ela numa doação total.
As coisas são como
Deus a fez e não como o homem quer que elas sejam. Nem para os indivíduos, nem
para as famílias, nem para as Nações há salvação senão em Cristo e nunca lhes
foi mais urgente proclamar Cristo Seu Rei, e Maria sua Rainha, como
agora.
A ira de Deus está
acesa contra os pecadores, contra as famílias prevaricadoras, mas ainda mais
contra as Nações irreligiosas, apóstatas e ateias. Bradaram já há mais de um
século: nolumus hunc regnare super nos: não queremos que Cristo reine
sobre nós! De facto não tem reinado. Em vez de Cristo, o erro, as forças
organizadas do mal; a Igreja vexada, perseguida; os seus inimigos aclamados,
fruindo de todas as regalias, imperando!
Mas o resultado?
Se se
cumpriu a primeira parte do salmo: lancemos de nós o Seu jugo!...
também se cumpriu a segunda: Rege-os com cetro de ferro, esmaga-os como um
vaso de
barro!
Já não têm conta
as Nações esmagadas como um vaso de barro, desde que resolveram sacudir o suave
jugo de Cristo. Nem precisamos de recuar mais longe na História: basta olhar
para as ruínas fumegantes das que nesta última guerra foram aniquiladas.
Verificou-se o que Nossa Senhora de Fátima tinha predito aos Pastorinhos: «Os
pecados do mundo são muitos. Nossa Senhora disse que no mundo há muitas guerras
— declara a Jacinta — e discórdias. As guerras não são senão castigos dos
pecados». E à Lúcia: «Várias Nações serão aniquiladas!»
As
que não foram esmagadas, acham-se quase todas em situação insolúvel, no meio das
ciclópicas dificuldades nacionais e internacionais em que se vêem envolvidas.
Está mais que provado: os homens não salvam a pobre Humanidade nem com guerras
nem com tratados nem com nações unidas, dos males tremendos que as oprimem.
Todas as soluções que pretendem dar aos problemas, geram novas complicações que
os tornam mais insolúveis. E à letra o que diz o Espírito Santo nos salmos: «Se
o Senhor não construir a casa, trabalham em vão os que a edificam. Se Ele não
guardar a cidade, frustra-se a vigilância dos que a guardam».
Na
alocução de Sua Santidade Pio XII, ao Sacro Colégio, a 2 de Junho de 1947, assim
exclamava o Pontífice: «Ano de 1947! Qual será o conceito que dele farão as
gerações futuras? Já atingiu a metade do seu curso e até agora, até este momento
em que vos dirigimos a palavra, deu por ventura ao mundo outra coisa que a
antítese aparentemente inconciliável entre a terrível aluvião de problemas a
resolver, nos quais se emaranha e naufraga, e a humilhante miséria das suas
soluções? O veredicto da História será correspondente aos frutos que os
acontecimentos e as deliberações produzirem nos meses que faltam para
completar-se o ano. E as futuras gerações o bendirão ou amaldiçoarão, consoante
o que representar para a família humana: ou um ponto de partida para uma
renovação dos sentimentos de fraternidade, que se concretize em uma ordem de
direito, de paz digna do homem, útil a todos e a todos suportável, ou ao
contrário, uma progressiva recaída no pântano estagnador das discórdias e
violências, de cujo lodo não poderão emanar senão os miasmas mefíticos e
deletérios de novas e incalculáveis calamidades».
Confessem
humildemente à uma, todos os que governam, a sua impotência e a causa donde ela
deriva. Se ainda pretendem salvar-se e salvar o mundo, arrepiem caminho; olhem
para o alto e aceitem submissamente o remédio que o Céu lhes oferece, antes que
a ira de Deus os desfaça.
Para
nos acudir e salvar, desceu à Terra Maria Santíssima a oferecer-nos o Seu
valimento e omnipotência de Rainha do Universo. Proclamem os homens o Seu
reinado que é todo de amor da mais terna e delicada e previdente das Mães, que
dispõe junto de Deus de todo o poder de intercessão.
Não vem com armas
nem exércitos; os Seus processos de conquista são muito simples. Manifesta-se a
três Pastorinhos em Fátima, a pedir-nos a todos, que deixemos o pecado, que
mudemos de vida e para isso, que façamos penitência, que oremos, que rezemos o
Seu Terço, que comunguemos nos cinco primeiros sábados de meses seguidos. Depois
começa a peregrinar Portugal em fora, passa à Espanha, à França, à
Bélgica, à Holanda... atravessa os ares, vai ao Canadá, aos Estados
Unidos, quer percorrer o mundo todo...
Como
fruto de intervenção tão simples as multidões caem de joelhos, milhares e
milhares de pecadores arrependidos choram, emendam-se de seus pecados, sentem
uma vontade enorme de começar agora a ser bons. Várias Nações pelos seus Chefes
eclesiásticos, com a presença dos que politicamente as governam, como Portugal,
Espanha, Brasil, consagram-se a esta Rainha de amor.
Muitos concelhos,
cidades e cabeças de Estados, como por exemplo a Baía, pelo seu Governador,
consagraram-se-Lhe também. Em Portugal é o Ministro do Interior que em nome do
Governo e da Nação entrega ao Legado Pontifício a coroa que foi cingida a
Senhora de Fátima; no Brasil, concluída a consagração da grande Nação, feita
diante de todo o Episcopado pelo Em. Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, o
próprio Presidente da República, General Dutra, ergue-se, toma a bandeira
nacional, beija-a e deposita-a aos pés de Maria Santíssima, como quem diz
solenissimamente: «é Vosso o Brasil; sois Vós a nossa Rainha!»
Na Holanda a
própria rainha, protestante, faz-se representar, ao chegar a seus domínios a
Celeste Peregrina
de Fátima e uma força militar de armas reluzentes presta homenagem oficial a
Rainha do Céu e da Terra.
São já alguns bons
exemplos para todos os outros povos imitarem são autênticas e retumbantes
afirmações de que Nossa Senhora é que é a Rainha das Nações e que é do Seu
Coração Maternal e Imaculado que nesta hora aflitiva há-de vir o remédio e a
salvação. Cor Mariae Spes mea: Coração de Maria, minha Esperança! Era o
lema de João Sobieski rei da Polónia. Com este brado a vibrar-lhe na alma e a
inebriar-lhe o coração se lançou ele afoito contra os turcos em 1683, e pouco
depois libertava heroicamente a cidade de Viena do apertado cerco muçulmano.
No
desespero em que se encontra o mundo, por não vislumbrar solução para as suas
angústias, bradem os que governam por este auxílio eficaz: «Coração de Maria,
Nossa Esperança!» Que Nossa Senhora, apesar dos crimes horrorosos das Nações
e dos homens, assim implorada, correrá compadecida como boa Mãe, a juntar às
nossas as suas lágrimas, aquelas lágrimas que Ela chorou no Calvário e volvendo
connosco o olhar para o Céu, implorará perdão, misericórdia e reconciliação. E o
Céu perdoa mais uma vez e pela divina Medianeira fará descer sobre a Terra
inteira, «as graças que podem num momento converter os humanos corações,
as graças que preparam, conciliam, asseguram a Paz... A Paz por que os povos
suspiram: a Paz na verdade, na justiça, na caridade de Cristo.»
A protecção de Maria estender-se-á «a quantos jazem ainda nas sombras da
morte... aos povos separados pelo erro e pela discórdia, nomeadamente àqueles
que (à Virgem) professam singular devoção», quer dizer, a Rússia, cuja conversão
já foi profetizada por Maria Santíssima aos Pastorinhos da Fátima. Alcançará
«Paz e liberdade à Igreja Santa de Deus; sustará o dilúvio inundante do
neo-paganismo, fomentará nos fiéis o amor à pureza, a prática da vida cristã e o
zelo apostólico, para que o povo dos que servem a Deus aumente em mérito e em
número.»
São tantas as
misericórdias e milagres operados por Nossa Senhora, depois que o Santo Padre
Lhe consagrou o mundo, que já se não pode duvidar, de que chegou enfim o começo
do Reinado de Maria na Terra, precursor do grande triunfo de Cristo.
Quando da passagem de Nossa Senhora de Fátima pela Bélgica, confessava um dos
Sacerdotes que mais tem trabalhado pela juventude operária, que Maria
Santíssima fez em poucos dias o que ele não conseguiu em muitos anos. E
comentava: «Ela arrebata os corações!»
Ela é a Rainha,
mas fez-se agora Missionária do mundo e pronto avivará por toda a parte as
virtudes da fé, da esperança e da caridades em virtude dessa força —
como dizia Sua Santidade Pio XII, na alocução acima citada — uma grande
corrente de ar puro atravessará a. Terra, dissipando a atmosfera de
pânico e de pessimismo que ameaça contaminá-la; os olhos cerrados se abrirão à
visão clara da verdade e da justiça; os transviados de boa fé e de boa vontade
descobrirão o caminho para escapar de uma situação quase intolerável e
avizinhar-se da resolução de contrastes considerados insolúveis. E isto, porque,
aqueles que encaram os acontecimentos à luz de uma ordem divina, não paira
dúvida, quanto à possibilidade de um pacífico acordo, mesmo nos mais graves
antagonismos de interesses humanos nacionais.
E não é
esta talvez a missão do Cristão, do Católico, no vórtice das agitações sociais e
políticas do tempo presente? Neste reside a causa do ódio que à Igreja votam
quantos, vivendo de dissensões e conflitos, alimentam desejo de mante-los
acesos. Esses como que por instinto, sentem, que a Igreja, estabelecida por Deus
como cidadela da fraternidade e da Paz não pode tornar-se cúmplice dos idólatras
adoradores da violência brutal, da luta externa ou intestina pela hegemonia
universal.
Bastaria esta
observação para encher de santa ufania os Católicos, pois que o ódio com que é
perseguida a Igreja põe em luminoso destaque a sua grandeza espiritual e moral e
a sua acção benéfica à Humanidade. Tende a consciência dessa grandeza, que
significa missão, dever e responsabilidade! Não foi em vão que a Divina
Providencia dispôs que jamais se manifestasse tão profundamente como em nossos
tempos, em todos os membros da Igreja sobre a Terrra, a consciência de uma forte
e comum participação no seu próprio corpo místico. Pois ainda que o
esforço das torvas potências da desagregação, da discórdia e da destruição se
estendam actualmente sobre o mundo, tanto maior será a eficácia da acção
preponderante dos Cristãos e das suas forças para obter a união, a ordem e a
Paz».
E o
Papa concluía: «Na beatificante certeza de que Jesus Cristo vive e age em cada
um de nós, dizemos portanto a cada um de Nossos filhos e filhas do universo:
resistite fortes in fide. O futuro pertencerá aos crentes, que não aos
cépticos e recalcitrantes. O futuro pertencerá aos vigorosos que agem
e esperam com firmeza e não aos tímidos e irresolutos. O futuro será daqueles
que amam e não dos que odeiam».
Eis aí os
resultados que nos promete para muito breve o reinado do Coração Imaculado de
Maria. E esse o reinado dos crentes, dos vigorosos, dos firmes, dos resolutos; o
reinado dos que amam!
Concluamos com a
prece que a todas as horas o Santo Cura de Ars, S. João Vianney, dirigia à
Virgem: «O Maria, que todas as Nações glorifiquem, que toda a Terra invoque e
bendiga o Vosso Coração Imaculado».
A República do Equador já desde 1873 consagrada ao Coração de Jesus, foi
também consagrada «ao Puríssimo e Imaculado Coração de Maria» por todos
os Prelados, ao ser colocada em 1892 a primeira pedra da Basílica do
Voto Nacional. (Cfr. Corazón de Reina, pág. 30, 2.ª ed. Madrid,
1915, pelo P. Manuel Lima).
No
terceiro Congresso Mariano, celebrado em Turim formulou-se o voto da
Consagração da Itália ao Imaculado Coração de Maria, projecto logo
abençoado por Leão XLII, em carta ao Arcebispo de Turim.
À
consagração da França feita a 13 de Dezembro de 1914 já nos referimos
anteriormente.
La Civiltá Cattolica,
num. cit.
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