Amor de
imolação
«Vão
muitas almas para o inferno,
por não haver quem se sacrifique e reze por elas».
Nossa Senhora
«A todos estes
obséquios e particularmente a frutuosa Consagração importa juntar um outro —
escrevia
Pio XI
na mesma
encíclica Miserentissimus Redemptor — ou seja, o acto de
reparação ou expiação, como costuma chamar-se».
E dá a razão: «Se
na Consagração sobreleva o intento de corresponder ao amor do Criador com o amor
da criatura, daqui se segue naturalmente outro que visa a reparar os
ultrajes que de qualquer modo sejam feitos ao mesmo Amor incriado, quando
desprezado por esquecimento, ou amargurado por ofensas... E mais abaixo: «ao
espírito de expiação ou reparação pertence lugar principal! no culto do
Sagrado Coração de Jesus e nada convém melhor à origem, à natureza, à virtude
própria desta devoção e as práticas dela como o mostram a santa Liturgia e os
documentos dos Sumos Pontífices».
Destas palavras
que nos legou Pio XI, na Magna Carta da devoção ao Santíssimo Coração de Jesus,
segue-se lógica e imediatamente, que na devoção ao Imaculado Coração de Maria
também não pode faltar este elemento da Reparação, já que esta devoção se
não deve separar da Devoção ao Coração de Jesus e é o melhor meio para a
realizarmos.
Logo, se como
afirma o Papa, a Reparação ocupa lugar principal na devoção ao Coração de
Jesus, também o há-de ocupar na devoção ao Coração de Maria e deve culminar na
Reparação, a Consagração que de nós Lhe fazemos.
Nenhuma verdade fica mais eloquentemente demonstrada nos documentos de Fátima,
desde as aparições do Anjo e da Santíssima Virgem, às revelações feitas
posteriormente à Irmã Lúcia, do que esta. Aí se vê com luz meridiana a
excelência, a necessidade e a prática, tantas vezes até ao heroísmo, da
Reparação.
Com efeito: porque
ensina o Anjo, na primeira aparição, aos pequeninos a dizer: «Meu Deus, eu
creio, adoro, espero e amo-Vos e peço-Vos perdão?» E para que reparem «pelos que
não crêem, não adoram, não esperam e não amam.
Na
segunda aparição torna-se ainda mais explícita e urgente a lição de Reparação:
«De tudo o que puderdes oferecei um sacrifício em acto de Reparação pelos
pecados com que Ele (Nosso Senhor) é ofendido e de súplica pela conversão dos
pecadores... Sobretudo aceitai e
suportai com submissão o sofrimento que O Senhor vos enviar».
Na terceira, antes
de Lhes dar miraculosamente a Comunhão Reparadora, ensina-lhes a célebre
jaculatória:
«Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo...» onde se ostenta bem em foco
o intento de Reparação, na cláusula logo a seguir: «adoro-Vos profundamente e
ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo,
presente em todos os Sacrários da Terra, em Reparação dos ultrajes,
sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido, e pelos méritos
infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos
a conversão dos pobres pecadores».
Ao
dar-lhes a Comunhão, termina o Anjo solenemente com a mesma ideia reparadora:
«tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo
horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos.
Reparai os seus crimes e consolas o vosso Deus.
Por
Seu lado, Nossa Senhora, desde a primeira vez que se manifesta sobre a
azinheira, na Cova da Iria, insiste com os seus ditosos videntes sobre a
Reparação. Logo no dia 13 de Maio, lhes dirige amoroso convite para uma vida
árdua de Reparação: «Quereis oferecer-vos a Nosso Senhor — lhes pergunta
— para aceitar de boa vontade todos os sofrimentos que Ele vos quiser enviar,
em Reparação de tantos pecados, com que a Divina Majestade é ofendida, para
obter a conversão dos pecadores e
desagravo das blasfémias e ultrajes feitos ao Imaculado Coração de Maria?»
A resposta
imediata numa Consagração de Reparação, não se fez esperar: — Sim, queremos! —
Resposta que logo é aceite pela Virgem, pois lhes anuncia, como resultado muitos
sofrimentos: «ides pois ter muito que sofrer», como quem diz: ides pois,
ser almas reparadoras, «mas a graça de Deus será o vosso conforto».
Nas
três seguintes aparições tudo converge para este ponto central de Reparação, ao
inculcar-lhes o Terço diário, ao ditar-lhes as duas jaculatórias: «O Jesus, é
por Vosso amor, pela conversão dos pecadores e em Reparação pelos pecados
cometidos contra o Imaculado Coração de Maria»; «O meu Jesus,
perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai
as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem».
De um modo
particular os transformou em almas heroicamente reparadoras com a visão
que lhes
concedeu
do inferno, em Julho: «Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres
pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu
Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas
almas e terão paz».
Em
Agosto, a 19, sintetiza a Virgem a urgentíssima necessidade de reparação, nestas
palavras, que todas as almas amantes de Nossa Senhora deviam gravar a fogo no
coração: «Rezai, rezai muito e fazei
sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o interno, por não haver
quem se sacrifique e teça por elas».
As criancinhas
saíram tão aproveitadas destas lições, que Maria Santíssima em Setembro,
diz-lhes que Nosso Senhor está contente com os seus sacrifícios e modera-lhes
até o fervor na penitência, que faziam com trazer à cinta uma corda: de noite
não quer que durmam com esse tormento.
* * *
Só no
Céu saberemos um dia qual dos três agora se mostrava mais diligente e generoso
em cooperar com o Coração de Maria na obra da salvação dos pecadores, por meio
da Reparação. Dos dois que já morreram alguma coisa nos ficou nessas páginas
admiráveis, a que o Autor ilustre deu o nome «JACINTA»; não se lêem sem lágrimas
essas páginas, ainda que uma e outra vez se repita a sua leitura. Impressiona
sobre todos o capítulo: «Uma grande alma
Reparadora».
A Jacinta
aparece-nos continuamente solícita e alerta, para que lhe não passe em claro nem
uma só ocasião de se sacrificar.
— «Mas os
sacrifícios, como os havemos de fazer? — interroga ela, logo depois da primeira
visita de Nossa Senhora. «Tomou tanto a peito — escreve a prima Lúcia – os
sacrifícios pela conversão dos pecadores, que não deixava escapar ocasião
nenhuma».
Ao ver umas
pobrezinhas que andavam de porta em porta a pedir: — «Demos as nossas merendas
àqueles pobrezinhos, pela conversão dos pecadores» — sugeriu ela — e correu a
levar-lhes a merenda dos três.
Um dia
abrasavam-se em sede; estavam em pleno verão, «o sol era de rachar pedras». A
Lúcia foi a distância buscar um pouco de água. Ao oferecê-la ao Francisco,
recebe esta resposta: — Não quero».
— Porque? —
interrogou a Lúcia.
— «Quero oferecer
pela conversão dos pecadores.
— Bebe tu,
Jacinta.
— Também quero
oferecer o sacrifício pelos pecadores.
Deitei a água na
concavidade de uma pedra, conclui a Lúcia, para que a bebessem as ovelhas e fui
levar a infusa à dona.
Brincávamos um dia
sobre o poço já mencionado. A mãe da Jacinta tinha ali uma vinha pegada; cortou
alguns cachos e veio trazer-no-los, para que os comêssemos. Mas a Jacinta não
esquecia nunca os seus pecadores: — «Não os comemos — diz ela — e oferecemos
este sacrifício pelos pecadores.
Depois correu a
levar as uvas às outras crianças que brincavam na rua. A volta vinha radiante de
alegria. Tinha encontrado os nossos antigos pobrezinhos e tinha-lhos dado a
eles.
«Outra vez minha
tia foi chamar-nos para comermos uns figos que tinha trazido para casa e que na
realidade, abriam o apetite a qualquer. A Jacinta sentou-se connosco satisfeita
ao lado da cesta; pega no primeiro para começar a comer, mas de repente
lembra-se e diz:
— É verdade, ainda
hoje não fizemos nenhum sacrifício pelos pecadores. Temos que fazer este.
Põe o figo na
cesta, fez o oferecimento e lá deixamos os figos para converter os pecadores.
Agora é a Lúcia
que encontra no caminho um bocado de corda; pegou nela e «a brincar atou-a ao
braço». Não tardei a notar, que a corda me magoava e disse a meus primos:
— Olhem isto faz
doer, podíamos atá-la à cinta e oferecer a Deus este sacrifício.
«As pobres
crianças aceitaram logo a minha ideia e tratámos em seguida de a dividir entre
nós os três; a esquina de uma pedra batendo em cima de outra foi a nossa faca.
Ou pela aspereza da corda, ou porque a apertássemos de mais, este instrumento
fazia-nos por vezes sofrer horrivelmente. A Jacinta deixava às vezes cair
algumas lágrimas com a força do incómodo que lhe causava; dizendo-lhe eu para a
tirar, respondia: — Não; quero oferecer este sacrifício a Nosso Senhor, em
reparação e pela conversão dos pecadores».
Não vamos a copiar
aqui toda a vida da Jacinta, neste ponto de mortificações exteriores. Bem sabido
é que se não reduzia apenas a esses sacrifícios voluntariamente buscados — e já
seria imenso — a sua Reparação pelos pecadores. A vida dos três transformou-se
toda numa ininterrupta oração reparadora. Sobretudo souberam ser heróicos em
aceitar os «sofrimentos que Nosso Senhor lhes enviou»: perseguições até das
pessoas da própria família e dos vizinhos da aldeia; insultos, pancadas, a
prisão no meio de generosidades dignas de mártires, e por fim, para os dois que
já morreram, doenças dolorosíssimas que acabaram de os purificar, antes de
voarem para o Céu.
Na prisão a
Jacinta chorava com saudades da mãe e da família; o Francisco procurava animá-la
a mãe se a não tornarmos a ver, paciência; oferecemos pela conversão dos peca
dores; o pior é se Nossa Senhora não volta mais. Isso é que mais me custa! Mas
também ofereço pela conversão dos pecadores».
E levantando os
olhos e as mãozinhas ao Céu, fez ele o oferecimento: «ó Jesus, é por vosso amor
e pela conversão dos pecadores». A Jacinta acrescentou: — E também pelo Santo
Padre e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria».
Quando na prisão o
administrador chamou a Jacinta para, como dizia, ser queimada,
«Ela foi prontamente sem se despedir. Interrogaram-na e meteram-na num quarto.
Enquanto a interrogavam — escreve a Lúcia — ele (o Francisco) dizia-me com
imensa paz e alegria: — se nos matarem, como dizem, daqui a pouco estamos no
Céu! Mas que bom: Não me importa nada!»
«Na doença o
Francisco mostrou-se sempre alegre e contente, às vezes perguntava-lhe: — sofres
muito, Francisco?
— Bastante, mas
não importa; sofro para consolar a Nosso Senhor e depois daqui a pouco vou para
o Céu.»
— «Nossa Senhora
veio-nos ver — descobria a Jacinta à prima Lúcia — e diz que vem buscar o
Francisco muito em breve para o Céu. E a mim perguntou-me, se ainda queria
converter mais pecadores. Disse-Lhe que sim. Disse-me, que ia para um hospital;
que lá sofreria muito, que sofresse pela conversão dos pecadores, em reparação
pelos pecados contra o Imaculado Coração de Maria e por amor de Jesus.»
«Cada vez me custa
mais a tomar o leite e os caldos: mas não digo nada; tomo tudo por amor de Nosso
Senhor e do Imaculado Coração de Maria, nossa Mãezinha do Céu.»
«Sua mãe sabia,
quanto lhe repugnava o leite: um dia levou-lhe junto com a xícara do leite um
belo cacho de uvas. — Não, minha mãe, as uvas não as quero; leve-as e dê-me
antes o leite que o tomo.
«E, sem mostrar a
mínima repugnância, tomou-o. Minha tia retirou-se contente, pensando que o
fastio da sua filhinha ia desaparecendo. Depois a Jacinta voltou-se para mim e
disse-me: — Apeteciam-me tanto aquelas uvas e custou-me tanto a tomar o leite!
Mas quis oferecer este sacrifício a Nosso Senhor!»
* * *
Estes exemplos
respigados quase ao acaso, mostram-nos, quão profundamente se gravou nestas
crianças a gravíssima lição que Maria Santíssima lhes deu, da necessidade da
Reparação, para que os pecadores se salvem; mostram-nos ao mesmo tempo a
misericórdia da Mãe do Céu em dar-nos estas vítimas inocentes, afim de que do
alto, o Senhor ofendido, começasse a olhar-nos propicio.
«Vão muitas
almas para o intenso por não haver quem se sacrifique e peça por elas?
— atestou
categoricamente a Mãe do Céu. Depois desta afirmação, ainda haverá dúvidas
acerca da urgência que temos de reparar por meio de orações e sacrifícios?
Reparar quer dizer
restaurar o que o pecado pôs em mau estado ou em ruínas; quer dizer,
compensar com outras boas obras o bem que o pecado destruiu ou impediu; quer
dizer, satisfazer ou expiar à Justiça divina as dívidas abertas
pelo crime. Árdua empresa, mas absolutamente necessária. Tão árdua que, se
Cristo não tivera vindo ao mundo a ajudar-nos, seríamos incapazes de qualquer
reparação eficaz ao mal feito com os nossos pecados. Tão necessária que foi
este o trabalho principal, antes de nenhum outro a que desceu à Terra o Filho de
Deus.
Fale Pio XI na
mesma encíclica há pouco citada:
«Nenhum poder
criado bastaria para expiar os crimes dos homens, se o Filho de Deus não tivesse
assumido a natureza humana para a remir.»
E agora advirta-se
bem o que o Papa explica mais adiante: «Se bem que a copiosa Redenção de Cristo
perdoou com superabundância todos os pecados (Col. II, 13), todavia, por aquela
admirável disposição da Divina Sabedoria de que no nosso corpo se há-de
completar o que falta aos padecimentos de Cristo em favor do Seu Corpo, que é a
Igreja (Col. 1, 24), podemos e até devemos acrescentar aos louvores e
satisfações que Cristo tributou a Deus em nome dos pecadores, os nossos próprios
louvores e satisfações. Toda a multidão dos Cristãos chamada com razão pelo
chefe dos Apóstolos, estirpe eleita, sacerdócio real (I Petri, II, 19) deve
oferecer sacrifício pelos pecados por si e por todo o género humano, quase da
mesma maneira que o sacerdote e pontífice tirados dentre os homens e
constituídos a favor dos homens, nas coisas que dizem respeito a Deus (Hebr. V,
7). Quanto mais perfeitamente corresponderem a nossa oblação e o nosso
sacrifício ao Sacrifício do Senhor, isto é, quanto mais imolarmos o nosso
amor-próprio e as nossas paixões e crucificarmos a nossa carne com aquela
mística crucificação de que fala o Apóstolo, tanto mais copiosos frutos de
propiciação e expiação colheremos para nós e para os outros.»
Destas afirmações
do Sumo Pontífice se conclui imediatamente, que tendo na hora presente subido ao
maior auge nunca antes igualada, a maldade dos homens, nunca como agora foi mais
necessária e urgente a Reparação de todos os membros do Corpo Místico de Cristo,
para acudir à pobre humanidade.
Já Santa Margarida
Maria afirmava: «O Sagrado Coração quer almas reparadoras que Lhe dêem amor e
peçam muito humildemente perdão a Deus de todas as injúrias que Lhe são feitas.
«A Santa Gema Galgani, Flor da Paixão, fazia o Senhor sentir o mesmo: «Jesus —
escrevia ela — amargura-se; não encontra bastantes almas que queiram segui-Lo
pelo caminho dos sofrimentos. E à hora da morte, em colóquio afectuoso com Nossa
Senhora, desabafava: — «Querida Mãezinha, são tantas as vítimas que se
necessitam!... Mas Jesus há de arranjá-las: Ele se encarregará de tudo!».
Realmente Jesus
empenha-se em nossos tempos, em arranjar dessas almas. Nesse intento foram as
tão variadas e repetidas aparições de Nossa Senhora em La Salette, Lourdes,
Pellevoisin, Pontmain e sobretudo em Fátima: duas palavras resumem as
recomendações de Maria Santíssima, em todas estas visitas feitas à Terra:
penitência e oração que encerram os dois grandes modos de Reparação.
As almas de boa vontade ouviram e algumas souberam ser generosas, como a Jacinta
e o Francisco.
Dom Vital Léhodhey,
na sua obra preciosa Le Saint Abandon, escreveu na página 75: «a nossa
época desgraçada em que a impiedade sobe come noite escura, em que a imoralidade
transborda como torrente de imundícies, viu multiplicarem-se as vitimas e até os
Fundadores de Comunidades». E lembra como Pio IX, sugeria ao Superior Geral de
uma Ordem, que convidasse as almas generosas a oferecerem-se a Deus como vítimas
de expiação. Leão XIII na encíclica dirigida à França, em 1884, exortava
«sobretudo aos que vivem nos Conventos, a que se esforçassem por aplacar a
cólera de Deus com a oração humilde, a penitência voluntária e a entrega a Deus
de si mesmos».
Recorda também o mesmo Autor, como Pio X exalçou a «Associação Sacerdotal» vendo
com gosto como «muitos dos seus membros se ofereciam a Deus secretamente, para
serem imolados como vítimas de expiação, especialmente pelas almas consagradas,
nestes tempos desditosos, em que a expiação é tão necessária, e enriqueceu com
numerosas indulgências esta grande Obra de piedade cristã.
O P.
Raoul Plus, S.J. afirmou também: «A nossa época, tão detestável por muitos
títulos, neste ponto de vista parece-nos magnificamente bela: o século XIX e
mais ainda o século XX pode chamar-se a idade da Reparação. Surgem almas
em grande número, fundam-se Institutos que não aspiram senão a uma coisa:
Reparar. Pode dizer-se sem medo de errar, que não há uma só alma santa desde
há um século para cá, não há um Instituto Religioso, no mesmo lapso de tempo,
que não tenha por objectivo senão único, ao menos simultâneo e por vezes
principal: trahalhar na Reparação.
E se ainda
houvesse dúvidas, tínhamos melhor e mais autorizado oráculo nas palavras de Pio
XI, na já aduzida encíclica Miserentissimus Redemptor: A palavra do
Apóstolo: onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rom. V, 20), pode
aplicar-se em certo modo à nossa época. Enquanto sobe sem cessar a malícia dos
homens, o sopro do Espírito Santo multiplica maravilhosamente o número dos fiéis
de um e outro sexo, que generosamente procuram reparar muitas injúrias
feitas ao Divino Coração e até não hesitam em se oferecer a si mesmas como
vítimas... Daqui nasceram muitas Congregações de homens e de mulheres que
com zelo e solicitude se propõem desempenhar dia e noite, em certo modo, o papel
do Anjo que consolava a Jesus no Jardim das Oliveiras; daí as piedosas
associações aprovadas pela Santa Sé e enriquecidas de indulgências, que tomaram
esse papel de reparadoras, impondo-se exercícios de piedade e virtudes em
relação com esse propósito: daí finalmente, para não falar de outras, o uso
frequente de práticas com o fim de reparar a honra divina ultrajada e as
reparações solenes não só de pessoas particulares, mas também aqui e além de
paróquias, dioceses e cidades».
Ao ler estas
palavras do grande Pontífice Pio XI, não podemos deixar de verificar que elas se
cumpriram de um modo especial na Terra onde Nossa Senhora se dignou vir-nos
revelar O Seu Imaculado Coração: em Portugal. É incontestável que os
acontecimentos de Fátima provocaram em toda a Nação, como nunca na história
religiosa de Portugal, um intenso movimento de Reparação que revestiu
todas as formas: Reparação nacional, Reparação paroquial, Reparação das
famílias; Reparação nos indivíduos, atingindo por vezes proporções gigantescas
de imolação; numerosíssimas Comunhões Reparadoras nas primeiras sextas-feiras e
nos primeiros sábados, Horas Santas, adorações nocturnas diante do Santíssimo
exposto, adorações nocturnas nos lares, de que foi grande apóstolo o P. Mateo.
Deve certamente a
Divina Providência ter atendido a este factor, que não só à Consagração feita ao
Imaculado Coração de Maria, para ter poupado Portugal na guerra mundial.
Concluamos: «o mundo salvar-se-á, escreveu, o P. Plus, quando houver entre nós
número bastante de almas reparadoras e não se salvará antes disso».
Toca então de um
modo especial aos verdadeiros devotos do Coração Imaculado de Maria apressar
essa hora, vivendo do verdadeiro espírito desta devoção, que é essencialmente
espírito reparador.
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