Coração da
Medianeira
«Diz a toda a gente que Deus nos concede as graças
por meio do Coração Imaculado de Maria.»
Jacinta
Santa
Margarida Maria Alacoque dá-nos em suas cartas a razão por que Jesus quer ver
honrado o Seu
divino
Coração com
especiais demonstrações de piedade: «é para, renovar nas almas os
efeitos da Sua Redenção, fazendo deste Coração como que um segundo Medianeiro
entre Deus e os homens».
Bainvel, comentando, diz-nos, que Santa Margarida considerava portanto, esta
manifestação como um grande acontecimento na história do mundo. E como uma era
nova que começa, para quem quiser submeter-se às influências, deste Divino
Coração. Não que Jesus não fosse já todo nosso, com todos os Seus tesoiros, pela
Encarnação e Redenção; mas há como que um passo mais de Jesus para nós, como uma
nova oferta de tudo o que Ele é e de tudo o que tem, dando-nos o Seu Coração...
Na manifestação do Seu Coração há uma nova declaração de amor, muito viva e
ardente e por isso, um novo apelo a que O amemos».
Também lhe chama
Santa Margarida Nova Redenção de Amor, isto é: nova efusão de graças e
meio mais pronto para as obter.
Confiado neste Novo Medianeiro, nesta Nova Redenção, Leão XIII entregava
confiadamente o mundo todo ao Coração Divino, dizendo-nos, que Nele devemos
colocar a nossa esperança; por Ele esperar a salvação».
Na hora trágica em
que a Humanidade inteira se via a braços convulsamente com a maior calamidade
que jamais desabou sobre a Terra depois do dilúvio, um novo sinal no Céu se nos
depara como Arca de Salvação ofertada aos homens, todo nimbado na doce
esperança de socorro e de Paz. E o Coração de Maria.
Se alguém o
duvida, oiça a Jacinta: «diz a toda a gente, que Deus nos concede as graças por
meio do Coração Imaculado de Maria; que lhas peçam a Ela, que o Coração de
Jesus quer, que a Seu lado se venere o Coração Imaculado de Maria. Que peçam a
paz ao Imaculado Coração de Maria, que Deus lha entregou a Ela».
Segundo as revelações de Fátima, o Coração de Maria aparece também, como uma
nova oferta, mais expressiva, mais ardente, se é possível, da Mediação de Nossa
Senhora junto de Deus e de Seu Filho. Daí as promessas de graças
extraordinárias: «A quem abraçar esta devoção prometo a salvação. Estas almas
serão predilectas de Deus, como flores postas por Mim diante do Seu trono —
dizia Nossa Senhora à Irmã Lúcia, a 17 de Dezembro de 1927. E são já bem
conhecidas as graças prometidas à prática dos primeiros sábados: «Diz que
prometo assistir com as graças necessárias à salvação, a todos os que no
primeiro sábado de cinco meses seguidos, se confessarem, receberem a Sagrada
Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem companhia durante quinze minutos,
meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravarem».
É por intermédio
de Maria, que devemos esperar todas as graças — escrevia Sua Santidade Pio XII
ao Cardeal Secretário de Estado, a 15 de Abril de 1942. Portanto exortamos a
recorrerem a Ela, e especialmente no próximo mês que Lhe é dedicado... Todos
sabem, na verdade, que sendo Jesus Cristo, Rei universal, Senhor dos que dominam
e conservam em suas mãos as sortes dos indivíduos e dos povos, Sua Santa Mãe
venerada por todos os fiéis como Rainha do mundo, tem junto dele o maior poder
de intercessão. E se o primeiro milagre operado pelo Divino Redentor em Caná de
Galileia, se deve à Sua suplicante misericórdia: se Seu Filho unigénito enquanto
estava pendente na cruz, nos deixou o que Lhe era mais caro, dando-nos por mãe
Sua própria Mãe; se finalmente no decorrer dos séculos os nossos antepassados
recorreram a Ela confiadamente em todas as calamidades públicas e particulares:
porque não nos confiaremos nós e todas as nossas coisas ao Seu poderosíssimo
patrocínio, enquanto o mundo se debate numa pavorosa crise actual?
«Porque tudo
obedece aos desígnios divinos, assim se pode ter por certo, que em qualquer
momento, Seu Unigénito escuta benignamente as preces de Sua Divina Mãe; e agora
especialmente que a Santíssima Virgem goza da eterna bem-aventurança no Céu,
aureolada de triunfal coroa, e saudada como Rainha dos Anjos e dos homens. Pois
se junto de Deus Ela goza de tanto poder, certamente terá piedade de nós, sendo
como é Mãe amorosíssima».
No mesmo ano em
Outubro, o mesmo Sumo Pontífice Pio XII, paralelamente ao que fez Leão XIII com
o Coração de Jesus, confiando nessa especial mediação do Coração de Maria,
«seguro de conseguir misericórdia e encontrar graça e auxílio oportuno nas
presentes calamidades» consagrou o mundo ao Imaculado Coração da Virgem Mãe.
«Assim como ao
Coração de Jesus foram consagrados a Igreja e todo o género humano, para que
colocando nele todas as suas esperanças, lhe fosse sinal e penhor de vitória e
salvação (é Pio XII que fala na dita Consagração) assim nós nos consagramos
perpetuamente a Vós e ao vosso Coração Imaculado, à Mãe nossa e Rainha do
mundo».
A radiomensagem e
a Consagração não só supõem implicitamente a mediação universal de Nossa
Senhora, mas afirmam-na em termos expressos e esse documento passa a constituir
mais um precioso argumento da grande prerrogativa da Mãe de Deus.
* * *
Com este acto, o
Pontífice respondeu a um duplo pedido feito há tantos anos à Santa Sé pela
Cristandade: a Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e a Sua
proclamação como Rainha do universo.
A
Consagração é formalíssima nas palavras que se seguiram à mensagem e repetidas
depois solenemente na Igreja de S. Pedro; e a proclamação de Nossa Senhora como
Rainha do mundo, também nos parece bem explicita nos termos finais ainda
agora citados: «O Mãe nossa e Rainha do
mundo!»
Mas dir-se-ia que
neste documento Sua Santidade Pio XII visava mais longe. Outro pedido não menos
insistente e piedoso dos fiéis à Santa Sé tem sido o da definição dogmática da
Mediação Universal de Nossa Senhora
Afigura-se-nos,
que este acto do Pontífice é como uma preparação próxima para o dia que não virá
longe da suspirada definição.
Com efeito: a
Consagração, em primeiro lugar pressupõe a Mediação de Maria Santíssima. Na
verdade, Mediação significa a prerrogativa pela qual a Virgem Maria está
colocada entre Deus e os homens para junto do Altíssimo interceder por eles,
alcançando-lhes perdão dos pecados e penas merecidas e obtendo-lhes todas as
graças e favores de que necessitam. E uma participação da Mediação primária e
essencial de Cristo e por isso, dela inteiramente dependente, a ela subordinada
e recebendo dela toda a eficácia e valor.
Para
maior proveito e consolação dos homens concedeu Jesus à Sua e nossa Mãe esta
glória que em nada obscurece a luz do sol pelo qual ela é iluminada — Delicadeza
extrema do Coração de Jesus! «Nenhuma ternura nem dedicação da perfeita
maternidade faltam à paternidade do Novo Adão; mas nós não sabemos bem vê-las
nele; e Maria para os nossos olhos tão débeis, para os nossos corações tão
desconfiados e tardios em crer, é uma revelação o mais persuasiva e o mais
encantadora possível dessa ternura e dedicação. Vós nos dizeis, à Maria, o que o
homem mais necessidade tem talvez de saber e que tanto lhe Custa a crer: que
Deus é Pai e que ninguém é tão Pai como Ele e que Jesus tem por nós ternuras de
Mãe!»
Já
por ter concebido e dado à luz a Jesus, Maria ficou como que fisicamente
constituída Medianeira entre Deus e os homens. Mas, prestando o Seu
consentimento para a Encarnação interveio moralmente como Medianeira nesse
grande passo da nossa Redenção; Maria disse nela a última palavra:
fiat mihi secundum verbum tuum!
Especialmente
ainda exerceu o Seu mister de Medianeira pela parte que tomou na imolação e
oblação de Seu Filho no Calvário. Participou na imolação, porque sendo Aquele
Corpo crucificado carne da Sua carne, cedeu como Mãe aos Seus direitos e
entregou Seu Filho à morte pelos homens e nessa Paixão e nessa Morte foi
Ela também terrivelmente imolada pelas dores do Coração e da alma.
Participou na
oblação, porque unia o seu Coração ao de Jesus que sem cessar exclamava no
íntimo: «Pai, não se faça a minha vontade, mas a Vossa».
Hoje Maria
Santíssima continua, a uníssono com Jesus, o Seu oficio de Medianeira,
intercedendo sem cessar por nós junto de Deus.
Pois bem: toda a
Consagração feita por Pio XII ao Coração Imaculado de Maria, supõe esta verdade
católica. Se a cada uma das cláusulas dessa Consagração fôssemos indagando o
porquê, deveríamos dar esta razão adequada: é que Maria é Medianeira.
O Sumo Pontífice
diz afoitamente logo de entrada: «Ao Vosso trono súplices nos prostramos,
seguros de conseguir misericórdia e de encontrar graça e auxílio oportuno nas
presentes calamidades».
Como conseguiria
essa misericórdia e encontraria essa graça e auxílio, se Maria não tivesse por
oficio alcançar-no-lo junto de Seu Filho, como Medianeira de todas as graças?
E porque Lhe
entrega toda a Igreja e todo o mundo? Porque a Sua mediação como a de Jesus é
universal: toda a Igreja e todo o mundo Lhe está confiado por Deus. E como essa
universalidade se estende não só às pessoas, mas também a toda a espécie de
graças, de ordem temporal e de ordem espiritual, que de algum modo se podem
relacionar com a economia da salvação, o Papa põe diante de Maria Santíssima
«tantas rumas materiais e morais, tantas dores, tantas agonias dos pais, das
mães, dos esposos, dos irmãos, das criancinhas inocentes; tantas vidas ceifadas
em flor; tantos corpos despedaçados na horrenda carnificina; tantas almas
torturadas e agonizantes, tantas em perigo de se perderem eternamente!»
Como Medianeira
universal, Maria é distribuidora de todas as graças, por isso, Sua Santidade
implora sem hesitação toda essa variedade de graças enumeradas na Consagração:
«misericórdia e paz e as graças que podem num momento converter os humanos
corações, as graças que preparam e conciliam a paz».
A
Consagração pressupõe a Mediação universal de Maria. Mas há mais: o Papa
claramente chama Medianeira a Nossa Senhora, na Mensagem de Outubro do
1942, a Portugal, nas palavras que precederam a Consagração: «Com todo o afecto
de Nossa alma — diz — Nos unimos convosco para louvar e engrandecer ao Senhor,
dador de todos os bens; para bendizer e dar graças
Aquela por cujas mãos a magnificência Divina nos
comunica torrentes de graças».
E
mais expressamente se é possível: «hoje só nos resta a confiança em Deus e como
Medianeira perante o trono divino, naquela que um Nosso Predecessor, no
primeiro conflito mundial, mandou invocar como
Rainha da Paz».
Além disso, no
precioso documento encontram-se repetidas expressões com que se designam vários
aspectos de Mediação de Nossa Senhora: «Rainha do Santíssimo Rosário: Auxílio
dos Cristãos; Refúgio do género humano; Vencedora de todas as grandes batalhas
de Deus; Mãe de Misericórdia; Rainha da Paz; Mãe nossa; Rainha do mundo».
* * *
Mas agora
fixemo-nos num ponto cheio de suavidade e conforto para as nossas almas. Não foi
a Maria simplesmente, mas também expressamente ao Seu Coração Imaculado,
que o Papa fez a Consagração do mundo.
É o Espírito Santo
a mostrar-nos, quanto deseja que advirtamos neste tesoiro escondido e o tomemos
para remédio de todos os nossos males e manancial de todos os bens que
necessitamos.
Numa palavra: é
pelo Coração de Maria que havemos de solicitar a Sua Mediação a nosso favor. E
que pedir seta o que for, pelo Coração Imaculado, é apresentar ao Eterno Pai, a
Seu Filho Jesus e à mesma Virgem Santíssima o motivo mais eficaz que se pode
excogitar.
O Coração Imaculado de Maria significa o melhor ponto de vista, a
quinta-essência de tudo o que há de mais sublime e agradável a Deus em Maria.
Apresentar ao Eterno Pai esse Coração, como razão das nossas petições, é lembrar
o amor dessa Filha predilecta para com o Criador, esse amor que A levou a não
hesitar uni instante no cumprimento de toda a Vontade divina, na aceitação de
todas as imolações. «Porque dizeis Vós o Vosso fíat na Encarnação
Redentora? — pergunta Sauvé — Por amor: O Vosso consentimento nasce do Vosso
Coração tão amante e tão puro».
Por isso a Jacinta
nos ensina «que Deus nos concede todas as graças por meio do Coração Imaculado
de Maria». E acrescenta também: «Que o Coração de Jesus quer que a Seu lado se
venere o Coração Imaculado de Maria».
Implorar a Jesus
ou do Seu Coração qualquer graça pelo Coração Imaculado de Marta, é lembrar-Lhe
todo aquele amor de Mãe que Jesus saboreou como o Seu melhor manjar, desde a
Encarnação ao presépio, desde o presépio ao Calvário desde o Calvário à subida
ao Céu; é recordar-Lhe todo esse momento, até que subiu também Ela ao Céu; é
pôr-Lhe diante o amor que a Virgem agora lã na Glória Lhe consagra; e Jesus não
tem lá melhor amor depois do de Seu Eterno Pai, que o amor do Coração de Sua
Mãe. Por isso, como não há-de ouvir-nos?
Pedir a Maria pelo
Seu Coração é lembrar-Lhe que é nossa Mãe: monstra Te esse Matrem.
Digamos melhor: é mostrar-Lhe que nos lembramos de que Ela é nossa Mãe, porque
Ela da Sua parte nunca o esquece. É mostrar-Lhe que nos recordamos do muito que
esse amor por nós A fez sofrer; do muito que esse amor por nós A teve solícita
dia e noite, enquanto viveu neste mundo e do muito que ainda agora Continua por
nós solícita no Céu.
«O
Coração Imaculado de Maria — escreve a Irmã Lúcia — é o meu refúgio,
principalmente nas horas difíceis e aí estou sempre salva. É o Coração da melhor
das Mães, sempre atenta velando pela última das suas filhas. Como esta certeza
me alenta e me conforta! Nela encontro força e consolação.
Este Coração Imaculado é o canal por onde Deus faz
jorrar sobre a minha alma a multidão das suas graças».
Em conclusão e
resumo: o exercício da Mediação é essencialmente um exercício de amor e por
isso, uma função essencialmente também do Coração de Maria.
Bainvel, La Dévotiou au Sacré Coeur, I, c. II, VII.
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