« SOFRER, AMAR,
REPARAR »
Nos dias 16, 17 e 18 de Novembro de
1933, o Padre Mariano Pinho foi pregar a Outiz, Vila Nova de Famalicão. Disso
nos informa o jornal poveiro Ideia Nova de 18/11/1933. Veja-se a notícia:
Dr. Mariano Pinho
De
passagem para Outiz, do concelho de Famalicão, onde foi pregar nos dias de
quinta, sexta-feira e hoje, esteve nesta vila o Rev.º Dr. Mariano Pinho,
ilustrado e sábio professor do Colégio de Nuno Álvares, das Caldas da Saúde.
Cumprimentamos o Rev.º Mariano Pinho,
que na Póvoa conta muitas e imensas simpatias.
Os breves estudos biográficos que
existem sobre o Padre Pinho não mencionam a sua actividade de «professor do
Colégio de Nuno Álvares, das Caldas da Saúde», o outrora famoso Colégio das
Caldinhas. Iria acaso lá apenas alguns dias na semana, de comboio, já que esse
meio de transporte ligava com alguma facilidade Braga a Santo Tirso.
O Padre Mariano Pinho começara a dirigir
a Beata Alexandrina em Agosto último. Como Outiz é próximo de Balasar, fácil é
alvitrar que visitaria a sua dirigida. E visitou. Consta da carta que a
Alexandrina lhe envia no dia 28 e que contém algumas informações importantes e
uma muito importante. Vejamo-la:
Viva Jesus!
Balasar,
28/11/1933
Sr. Padre Pinho
Não pude passar
de hoje sem lhe dizer alguma coisa de mim, e ao mesmo tempo procurar saber que
tal foi o
regresso de Balasar para Braga. Chegou bem? Ainda não tinha a porta
fechada? Não lhe fez mal o jantar que estaria pouco a jeito da saúde de V.ª
Rev.cia? Sempre o receio de que por minha causa se lhe agra-vem os sofrimentos me
faz às vezes preocu-par um pouco; mas confio em Nosso Senhor que tudo tenha
corrido bem.
Eu cá continuo
com todos os meus sofrimen-tos e de sábado para domingo deu-me pela cabeça, não
sei explicar o quê. Estava a dor-mir e fez-me acordar; parece que deixo de vi-ver.
Dura pouco tempo, mas repete-se várias vezes. Penso ser resultado da espinha. Eu
muito não queria vir perder o juízo; espero que Nosso Senhor me há-de atender,
mas seja feita a sua santíssima vontade.
Sr. Padre Pinho,
são passados nove dias que aqui veio. Oh, como fiquei com saudades!
Já me tem feito
pensar se seria a última vez que nos vimos, mas não seria, porque Nosso Senhor,
que tudo conhece, sabe bem a neces-sidade que tenho de o ver mais vezes, para me
ajudar a ser o que tanto desejo, que era ser santa, e conheço que estou bem
longe de o ser.
Agora pedia a
V.ª Rev.cia para, na próxima ocasião que possa, não se esquecer de me fazer o
grande favor de mandar o santinho que lhe pedi.
Esqueci-me de
lhe perguntar se podia escrever nas minhas cartas – como nas de V.ª Rev.cia –
“Viva Jesus”, mas, mesmo sem perguntar, desta vez sempre vai.
Agora para esta
escrevente não é mais nada; ela envia-lhe muitas lembranças, assim como a minha
mãe.
(Escreve agora a
Alexandrina)
Sr.
Padre Pinho, desta vez não assino só o nome. É pouco, porque não posso, mas
queria-lhe pedir explicação destas palavras que lhe vou dizer, porque não me
lembrei quando me perguntava o que Nosso Senhor me dizia. Muitas vezes me lembro
de dizer assim – Ó meu Jesus, que quereis que eu faça? – e, sempre que digo
isto, não ouço senão estas palavras: «Sofrer, amar e reparar». Creio que me
entende.
Faça a grande
caridade de abençoar esta grande pecadora.
Alexandrina
Maria da Costa
Esta carta merece algumas notas. A
autora começa por manifestar a sua preocupação pela saúde do destinatário, que
nunca terá sido muito boa: é a caridade, a delicadeza em acção. Depois, passa a
centrar-se mais nela, no seu sofrimento, nos seus anseios. Mais adiante, não se
esquece de enviar cumprimentos dos seus familiares. Quando fala da «escrevente»,
entende-se sem dúvida a Deolinda, que lhe escreveria a carta.
Por fim, vem o texto autógrafo
onde ela menciona um importante momento da sua caminhada espiritual, de quando
ouve o lema que lhe há-de nortear o futuro, que lhe mostra o caminho que a
levará à santidade:
«Sofrer, amar e reparar».
Para o Padre Pinho, que viera havia
quatro anos de Paray-le-Monial, isto deveria ser uma revelação: a sua dirigida
acabava de ser colocada na esteira de S. Margarida Maria Alacoque. Isso iria
confirmar-se dois anos e meio à frente, aquando do primeiro pedido para a
Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria.
O caminho do sofrimento foi também o do
Padre Mariano Pinho, como Jesus declara à Alexandrina em 7 de Junho de
1952:
«Diz ao teu Paizinho
que ele está todo absorvido dentro do Meu Coração Divino.
É nele que ele sofre, é nele que ele trabalha, é nele que ele vive.
Diz-lhe que as grandes imolações e as grandes crucifixões são próprias dos
santos.»
A Beata diz que se tinham passado nove
dias depois da visita do Padre Pinho. Ele esteve lá então no domingo, como ela
registou na Autobiografia:
«Em 20 de Novembro de 1933, tive a graça
de ter pela primeira vez o Santo Sacrifício da Missa no meu quarto».
José Ferreira
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