

Capítulo 23
OS MÉDICOS
EM CENA
1941
Desde que
principiaram a dar-se os primeiros êxtases em que a Alexandrina —
paralítica há tantos anos — recuperava durante eles os movimentos,
pôs-se para logo o problema: até que ponto esses movimentos eram
milagrosos? Tratava-se, como sempre se pensou até aí, de paralisia
orgânica (tendo por causa mielite, osteite) ou meramente funcional?
A Ciência,
se possível, tocava dar a resposta e nela tinha grande interesse, antes
de mais ninguém, para perfeito conhecimento de causa, o director
espiritual da doente, tanto mais que o próprio Senhor Arcebispo Primaz
lhe significara desejo de ver o caso examinado por médico competente.
Convidaram-se, antes de mais ninguém, o médico assistente, Dr. João
Alves Ferreira e o Dr. Abílio de Carvalho, da Póvoa de Varzim, a
presenciar alguns desses êxtases da Paixão. Nada puderam concluir de
definitivo sobre o ponto em questão. Era mister primeiro que tudo uma
radiografia, devendo para tanto deslocar-se até ao Porto a Alexandrina.
Oiçamo-la a ela própria, nas suas notas autobiográficas:
Quando o meu Director Espiritual me falou em ser
examinada pelos médicos, foi para mim um grande tormento;
uma grande barreira se levantou em minha alma. Queria
sofrer escondida, que só Jesus soubesse do meu
sofrimento. Mandava a obediência, calei-me e tudo
aceitei por Jesus. Faltavam os médicos para completar o
meu calvário. Alguns foram verdadeiros algozes que no
caminho encontrei. Resolveram que fosse ao Porto. Custou-me
muito a convencer-me, devido ao estado em que me
encontrava. Temia não poder fazer viagem e ao convite do
médico assistente, respondi-lhe:
— Então o Sr. Doutor, em 1928, não consentiu que eu
fosse a Fátima e agora, que eu tenho piorado tanto, quer
que eu vá ao Porto?
Sua Excia. respondeu assim:
— É verdade que não consenti, mas agora queria que
fosse.
Perguntei-lhe se o meu Director Espiritual sabia do caso
e como afirmasse que sim, cedi ao seu pedido.
No dia 6 de Dezembro de 1938, fui tirada da minha cama
para uma automaca. Naquela manhã fui muito visitada por
pessoas amigas e em quase todas via lágrimas nos olhos,
assim como nas pessoas da minha família. Eu procurava
alegrar a todos, fingindo que nada sofria. Foi dolorosa
a minha viagem, pois foram precisas três horas e cinco,
para chegar ao Porto. Parámos inúmeras vezes.
No consultório do Sr. Dr. Roberto de Carvalho, tirei a
radiografia e por ele fui tratada com todo o carinho.
Disse-me assim:
— Ai minha menina, quanto sofres!
De lá fui transportada para o Colégio das Filhas de
Maria Imaculada, onde me trataram muito bem. O que mais
me custava era sofrer os ruídos da rua, chegando por
vezes quase a perder os sentidos.
Lá fui examinada pelo Sr. Dr. Pessegueiro, exame este
que só serviu para maior sofrimento. No regresso No
Porto a casa, voltei a ter uma viagem penosa.
A
radiografia nada acusou e o próprio Dr. Roberto de Carvalho, suspeitando
tratar-se de mielite, declarou que esses processos escapam à
radiografia. Foi este o seu parecer em carta ao Dr. Abílio de Carvalho:
Meu prezado amigo e colega
O estudo analítico da radiografia da coluna lombar,
sacro, articulações sacro-ilíacas e articulações
coxo-femurais não mostra a existência de qualquer lesão
óssea evidente. Os corpos vertebrais, os espaços
intervertebrais, os contornos ilíacos, dum modo geral,
toda esta estrutura é regular e normal, como se verá
pelo cliché junto, não havendo qualquer sinal que nos
leve a pensar em lesões ósseas propriamente ditas,
parecendo portanto, que as suas perturbações tróficas
devem estar relacionadas com qualquer processo de
mielite, lesão medular, que não é fácil estudar,
como é sabido, pelo exame radiológico. E um caso para
ser internado e estudado convenientemente, porque com o
estado geral que a doente apresenta e sem um estudo
cuidadoso do caso, não é possível formar qualquer
hipótese.
Com os cumprimentos do amigo grato. R. C.
Achando-se pelo Natal em Braga, onde residíamos, o Dr. Elísio de Moura,
conhecido neurologista, convidámo-lo a vir examinar a doente, a ver se
na verdade, a sua paralisia teria por causa mielite ou não. Acedeu
gostosamente ao nosso convite.
Explicámos-lhe então a razão do nosso interesse em conhecer a causa da
doença: — é que tendo ela êxtase em que se movimentava perfeitamente,
era de toda a conveniência perscrutar o valor desses movimentos, à face
da Ciência.
Ergue
bruscamente a cabeça e, em tom bem diferente daquele em que até ali
estávamos conversando, respondeu-nos:
— Ah sim?
Está bem: eu vou lá e curo-a!
— Mas
Doutor, não é que tenhamos dúvidas da verdade dos êxtases da doente;
queremos simplesmente saber até que ponto esses movimentos excedem as
forças naturais, suposta a sua paralisia.
— Sim,
sim: eu vou lá e curo-a! — repetiu.
Com tal
predisposição apriorística, pareceu-nos logo que pouco resultado prático
iria dar o tal exame. Mas lá fomos, ele, sua Esposa, o Padre José de
Oliveira Dias, S.J. e nós, no dia 26 de Dezembro de 1938.
Sem
nenhum interrogatório prévio, tratou-a como a própria Alexandrina nos
descreve nas suas notas biográficas:
No dia 26 de Dezembro de 1938, fui visitada e examinada
pelo Sr. Dr. Elísio de Moura, que me tratou cruelmente,
tentando sentar-me numa cadeira com toda a violência.
Como nada conseguisse, atirou-me para cima da cama,
fazendo experiências que me fizeram sofrer horrivelmente.
Tapou-me a boca, atirou-me contra a parede, fazendo-me
dar uma forte pancada. Vendo-me quase desmaiada,
disse-me:
— Ó minha Joaninha, não percas os sentidos.
Sem querer, chorei, mas as minhas lágrimas ofereci-as a
Jesus com os meus sofrimentos que foram muitos, pois o
que digo, nada é do que passei. Tudo lhe desculpei,
porque ele vinha em missão de estudo.
Em carta
escrita no dia seguinte, começava por esta frase:
Custa-me muito a falar; tenho o meu corpo que parece que
passaram carros por cima e o esmigalharam.
Copiamos
agora o que ao regressar a casa escrevemos em nossas notas que temos
presentes:
26.12.38
- Consegui levar hoje à doente o Dr. Elísio de Moura. Conclusão:
parece-lhe que não tem mal de Pott. Perguntei-lhe se não será alguma
coisa na medula? Respondeu: poderia ser. Mas o que mais afirma é que foi
um crime abandoná-la clinicamente e não a terem examinado a sério há
mais tempo.
Quanto
aos fenómenos tais quais se apresentam (ele assistiu ao êxtase da
Paixão), — são impressionantes, disse — e muito
impressionantes, para quem não está habituado a observar o que eu
observo: para mim são banais e não vejo motivo, da parte da Ciência,
para os atribuir a forças estranhas.
— Então
que causa lhe atribui? Histeria? — perguntámos.
— Não.
— Então?
Respondeu
hesitando:
— Fraude
e auto-sugestão.
É de
notar que o Dr. Elísio de Moura, católico, o melhor psiquiatra
português, mas não sabe nada de fenómenos místicos, como múltiplas vezes
mo confessou, nem está disposto a admiti-los; mostrou-se até algo
interessado, quando lhe disse que médicos eminentes os estudavam e
admitiam. Não admite as estigmatizações dos Santos; mostra-se muito
céptico a respeito dos milagres de Lurdes e indignado com a Voz de
Fátima, pelos milagres que lá narra. Nunca leu nem estudou nada de
Mística e afirma-me que não há nenhum médico em Portugal que saiba disto.
Procurei
convencê-lo que estudasse, pois os teólogos em Portugal precisariam
médico a quem recorrer em casos análogos, possíveis... Respondeu-me que
não tinha tempo.
Conclusão
— continuam ainda as notas — É inútil estarmos a levar mais médicos,
enquanto os fenómenos não passarem disto. Ele, o Dr. Elísio, admitiria
como extraordinária a estigmatização e levitação, se as visse ele.
Passaram-se mais de dois anos. Mas eis que, em princípios de 1941, nos
procura em Braga um cavalheiro que nos afirma ser médico — Dr. Manuel
Augusto de Azevedo — e manifesta-nos desejo de ver a doente de Balasar,
pedindo-nos para isso uma apresentação.
Lá foi e,
depois de ter assistido várias vezes aos êxtases da Paixão, declarou-nos
que um caso destes tinha de ser bem estudado e registrado pela Ciência,
tão extraordinário ele era.
Respondi-lhe que já vários médicos a tinham examinado e que os exames e
resultados só serviram para mais torturar a pobre mártir.
Ele porém
insistiu e comprometia-se a escolher médicos competentes e que tratariam
a doente com todo o cuidado.
Sugeri-lhe então que, visto o seu interesse neste caso, o estudasse ele
a sério como médico e depois apresentasse as conclusões a outros
competentes, a ver se estavam de acordo. Acedeu e algum tempo depois, a
15.2.41, escrevia-nos:
Irei mais vezes a Balasar e procurarei como médico
estudar a doença da Alexandrina, doença que acompanha os
dons de que Nosso Senhor a dotou. Essa doença, que
deverá ser uma mielite lombar e que deverá ser
registrada, com respeito e carinho, por vários médicos —
a meu ver, mais realça todos os fenómenos que se passam
todas as sextas-feiras, principalmente no que diz
respeito a movimentos.
Enquanto a fisionomias várias, compostura de movimentos,
profundezas de conceitos teológicos e místicos
expressos, tudo isso é simplesmente admirável.
Nada absolutamente nada do que se passa, quer sob o
ponto de vista clínico, quer sob o ponto de vista
teológico, nos poderá permitir que classifiquemos de
naturais ou diabólicos os fenómenos que observamos.
Depois, a sua vida humilde e despretensiosa, a sua falta
de cultura, o seu equilíbrio de inteligência e maneiras,
a sua resignação completa e humildade profunda, os seus
rasgos de génio amiudados, tudo isto envolto numa
simplicidade encantadora, dá provas manifestas de que se
trata de uma alma a transbordar de sobrenatural, à beira
da qual nos sentimos pequeninos, muito e muito
pequeninos.
Bendito seja Nosso Senhor que nos dá tais anjos pala
expiarem os nossos pecados.
O Dr.
Manuel Augusto de Azevedo — que a Providência trouxe a intervir neste
caso, no momento oportuno, e que com toda a competência de clínico
notável, de católico fervoroso e conhecedor nada vulgar da Teologia e da
Mística (ainda há médicos em Portugal que se interessam pela Mística),
assistirá à Alexandrina e a defenderá competente e incansavelmente até à
morte de todos os seus impugnadores, por lhe parecer que com essa
atitude não só defende a causa de um inocente, mas a causa de Deus —
estudou com todo o vagar e consciência o ponto que falávamos, compondo
um relatório completo no qual chega à conclusão de que se trata de
mielite lombar sagrada, mas também braqueal ou compressão medular de um
ou mais focos.
O
primeiro colega a quem resolve mostrar esse Relatório, e convidar a que
venha examinar a doente, é o Dr. Abel Pacheco, por já em tempos, nos
começos da doença, a ter examinado, como vimos anteriormente, e ter até
declarado ao médico assistente de então que a doente não tinha cura.
Passo a dizer-lhe que o Sr. Dr. Abel irá na próxima
quinta-feira, 1 de Maio (escreve-nos a 26.4.41), ver a
doentinha de Balasar. Irei buscá-lo ao Porto às 8,30 e
estaremos em Balasar pelas 10 horas, se Deus quiser. Já
lhe tinha enviado o meu Relatório e o Sr. Dr. Abel
esteve a lê-lo com o irmão, colega do Sr. Padre Pinho
(trata-se do Padre Manuel Pacheco, S.J., já falecido).
Tive a impressão de que o Relatório e as palavras do
irmão o assustaram...
E a
1.5.41:
O Sr. Dr. Abel Pacheco foi a Balasar ver a Alexandrina
na minha companhia, comparecendo o médico assistente,
Sr. Dr. Alves. Concorda com o Relatório que apresentei,
mas, enquanto a diagnóstico, a princípio discordava:
inclinava-se para uma nevrose e nesse caso, o que é
tudo, ficava sujeito a uma crítica talvez desairosa.
Pelo caminho até ao Porto não falámos noutra coisa e
então terminou por dizer que era possível ser a doença
principal uma mielite lombo-sagrada, mas que só
acreditava nela, se o electrodiagnóstico fosse positivo…
Razões
várias levaram o Sr. Dr. Abel a não aceitar a mielite lombo-sagrada,
como mais tarde escreveu:
Se na realidade há lesões orgânicas, como conciliar essa
impossibilidade de marcha e muito mais de genuflexão com
a representação feita ao vivo da Paixão de Nosso Senhor
Jesus Cristo, não uma vez, mas todas as sextas-feiras?
Só por milagre o facto se poderia admitir: mas desde que
se verifica todas as semanas, tenho direito de pensar
que são milagres de mais.
A isto
facilmente se poderia responder que Deus tanto lhe custa fazer um
milagre, uma vez, como repeti-lo muitas. Cumpria-se também nisto o que
Nosso Senhor tinha afirmado à doente, uns cinco anos atrás:
Farei em ti grandes maravilhas.
E veremos
claramente essas maravilhas, quando durante mais de treze anos, estiver
sem comer nem beber coisa nenhuma.
Não
concordavam pois os dois clínicos no diagnóstico da paralisia da
Alexandrina. Era mister um especialista inconteste para dar a última
palavra. Resolve o Dr. Augusto de Azevedo recorrer a um neurologista de
nome, o Dr. H. Gomes de Araújo, tanto mais que a opinião do Dr. Pacheco
tinha transposto os limites dos imediatamente interessados no assunto e
já se espalhava que a doente de Balasar era uma histérica em alto grau e
se tornava bem desairoso para a Companhia de Jesus ver envolvido nesse
caso um de seus membros, o director espiritual da doente.
A 5.7.41,
recebíamos esta carta do Dr. Augusto de Azevedo:
Se Deus quiser, a nossa ida ao Porto será no dia 15. O
Sr. Dr. Gomes de Araújo disse-me que aparecêssemos numa
terça-feira e quando quiséssemos, por isso é natural que
a ida seja no dia 15.
Estou ansioso que passe esse dia, afim de vermos se é
polimielite (mielite) ou se é polinevrite (nevrite).
Tudo me leva a crer que seja mielite, apesar da ausência
de reflexos tendinosos dos membros inferiores. A rigidez
muscular da doente é tão intensa, que para a
pesquisarmos, era preciso fazer a prova de Magalhães
Lemos, que consiste em injectar por via subcutânea um a
dois miligramas de bromidato de escopolamina e vinte
minutos após a rigidez muscular estaria desfeita,
aparecendo os músculos tal qual estão (normais ou
alterados). Muitas vezes há sintomas piramidais
(Babinski) que só assim são postos em evidência...
Não caberei em mim de contente se Deus permitir a
constatação eléctrica da doença que julga ser, para
serem postos de lado por outros os histerismos, que por
mim não ganharam raízes nem ganhavam, ainda que o exame
eléctrico nada desse.
Mas deve tratar-se de mielite ou nevrite. Claro que é
muito mais grave e portanto, verdadeiro milagre, andar
nas condições em que está a evolução da doença, se for
mielite. Se fosse nevrite, nas condições actuais, também
não poderia andar a doente sem auxílio ou ordem
superior; mas o caso não era tão brilhante…
Como
escreve a própria doente em suas notas, no dia 15 de Julho de 1941, às
quatro horas e meia da manhã partiram de Balasar.
Em que silêncio ia a minha alma! Mergulhada num abismo
de tristeza, mas sem me separar um momento da união
íntima do meu Jesus, ia-lhe pedindo toda a coragem para
o exame que ia ter e pelo seu divino amor e pelas almas
oferecia todo o meu sacrifício...
O exame foi doloroso e demorado...
A
regressarem a Balasar, de lá mesmo nos escreve o Dr. Augusto de Azevedo:
Agora que trouxe ao Calvário a doentinha e que vou
retirar-me, não o quero fazer sem deixar escrita a
impressão do Sr. Dr. Gomes de Araújo. Depois de um exame
muito rigoroso e que lhe causou bastantes dores,
escreveu o seguinte:
"A doente Alexandrina Maria da Costa é portadora, quanto
a mim, de compressão medular alta sé, ou complicada de
outros focos compressivos mais baixos.
H. Gomes de Araújo, 15 de Julho de 1941."
No seu entender — continua o Dr. Augusto de Azevedo — a
doença está na medula e de modo nenhum em ponto
diferente, isto é, nos nervos dos membros inferiores.
Enquanto à etiologia, à causa, poderá essa compressão
ser devida a qualquer lâmina ou parte óssea que
partisse, quando foi dado o salto, aos treze anos, e
pode ser devido a qualquer massa tumoral que se esteja a
formar à volta da medula. Só exames rigorosos e
dolorosos poderiam distinguir a causa — se distinguissem
— pois também é possível nada darem, continuando a
ignorar-se a causa.
O que ficou assente foi o seguinte: a doença está na
medula e é natural que seja uma compressão.
Considerei ou falei-lhes em histeria e ele pôs de lado
essa ideia. Claro que, se em histeria falei, foi para
ouvir a sua opinião.
Em carta
posterior esclarece ainda o distinto clínico: 19.8.4l
Segundo a opinião dos grandes médicos e tratados de
medicina, as mielites crónicas podem ser devidas à
localização na medula espinal duns processo infeccioso
geral, ou podem resultar de uma compressão por tumor ou
lesão das vértebras, de traumatismo, de
paquimeningites, sífilis, resfriamento.
O Sr. Dr. Gomes de Araújo, um dos maiores neurologistas
de Portugal, prefere o nome para o diagnóstico, de
compressão medular, porque entende que a medula está
prejudicada nas funções, por motivo externo (certamente
algum tumor nos invólucros da medula ou qualquer lâmina
óssea que fracturou da ocasião do salto) e nos casos de
compressão da medula, apesar da gravidade dos sintomas,
as modificações dos elementos nervosos são mais leves,
explicando-se dessa forma o facto de os reflexos
tendinosos não serem exagerados.
O Sr. Dr. Gomes de Araújo entende que deve haver grande
compressão medular, porque esta explica melhor as muitas
dores da nossa doentinha; ao passo que na mielite sem
compressão, não há em geral tantas dores.
Numa palavra: trata-se de afecção na medula, mas por
motivo externo, no pensar do Sr. Dr. Gomes de Araújo,
grande neurologista.
Quando
mais tarde, em 1943, o mesmo Dr. Gomes de Araújo tiver de examinar
durante quarenta dias a doente, por causa do seu jejum total de sólidos
e líquidos, há de ainda repetir no seu Relatório:
Não temos razões para eliminar a hipótese de paralisia
orgânica.
E o Dr.
Carlos Lima, professor jubilado da Faculdade de Medicina do Porto, há de
afirmar também, em conjunto com o Dr. Augusto de Azevedo, no seu
Relatório sobre o jejum perpétuo, "que a Alexandrina é portadora de uma
afecção ou compressão medular, causa da sua paraplegia..."
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