PRO CAUSA DE BEATIFICAÇÃO - PRO CAUSE DE BÉATIFICATION

O Coração Imaculado de Maria
á luz de Fátima

 

I.ª PARTE FUNDAMENTOS DA DEVOÇÃO

ALVORES DA DEVOÇÃO

I – O Coração de Maria na Escritura e nos Padres e Doutores da Igreja: 1) S. Luc., cap. I, vers. 19 e vers. 51; 2) Cant. Cant., cap. V, 2; cap. VIII, 6.

II – Até ao século XI nada de culto explícito : 1) mas a partir desta época, cada vez amais abundantes os documentos sobre este assunto: a Meditatio in salve; S. Boaventura, S. Lourenço Justiniano, Ricardo de S. Vítor, S. Bernardino de Sena, etc.; 3) Santa Matilde, Santa Gertrudes, Santa Brígida; 4) os doze apóstolos desta devoção apontados por S. João Eudes; 5) até ao século XVII restringe-se a devoção ao culto particular.

CULTO PÚBLICO

I – Primeiros vestígios: 1) Confraria do Coração de Maria em Nápoles; 2) e Exercícios piedosos do Coração de Maria pelo P. Vicente Guinigi.

II – S. João Eudes, principal apóstolo deste culto público: 1) os seus escritos («O Coração admirável da santíssima Mãe de Deus») e  as duas Congregações Religiosas por ele fundadas; 2) as suas prega­ções, ofício e Missa aprovados por 56 Prelados; 3) resultados esplêndidos obtidos, quando da sua morte: 20 dioceses praticavam esta devoção; pululavam as confrarias, medalhas e exercícios devotos; 4) Il Sacro Cuore di Maria Vergine do P. Pinamonti, S.J.; os Frades Menores e o P. Gallifet, S.J. trabalham por instituir oficialmente a festa do Coração de Maria; aprovações sucessivas de Pio VI e Pio VII.

FÁTIMA

I — A revelação do Coração da Maria: 1) preparada pelo Anjo, nas três aparições 2) explícita nas aparições de Nossa Senhora, principalmente na de 13 de Junho e 13 de Julho de 1917, após a visão do Inferno; 3) nelas se nos revela a finalidade, os frutos e a prática da devoção, particularmente os cinco primeiros sábados e a consagração ao Coração de Maria; 4) palavras da Jacinta.

II       — Revelações posteriores à Irmã Lúcia: 1) a 10-XII-1925; a 15-XII-1926 e a 17-XII.1927; 2) a Irmã Lúcia começa a cumprir a sua missão; a 13 de Setembro de 1939 O Sr. Bispo de Leiria torna público o pedido de Nossa Senhora; 3) a 2 de Dezembro de 1940 escreve a Lúcia, pedindo entre outras coisas a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria.

III— Pio XII consagra o mundo ao Imaculado Coração de Maria: 1) vinha de longe este movimento; 2) a radiomensagem do Papa a

Portugal, a 31 de Outubro de 1942.

O QUE É O CORAÇÃO DE MARIA

I— Significado deste objecto santíssimo: Coração de Maria: 1) várias acepções da palavra coração; 2) tratando-se do objecto próprio da devoção ao Coração de Maria, não é indiferente empregar este termo em qualquer sentido; 3) significa o órgão de carne e a Sua vida íntima de amor a Deus e às almas, mas constituindo um todo uno na unidade da pessoa de Maria.

II — Demonstra-se pelos documentos autênticos: 1) Pinamonti e Nilles; 2) Liturgia; 3) Actas da Sagrada Congregação dos Ritos; 4) particularmente o segundo Nocturno do ofício da festa decretada por Pio XII para todo o mundo.

III — Os espinhos rodeando o Coração de Maria: 1) aparição à Irmã Lúcia a 10.XII.1925; 2) não podemos prescindir deste elemento no estudo do objecto; 3) confirma-o a nova Missa aprovada para a festa.

O CORAÇÃO DA PREDILECTA DO ALTÍSSIMO

I — Fulgores deste objecto santíssimo: 1) quem se atreverá a dizê-los?; 2) predestinada ab aeterno para a mais augusta dignidade; 3) relações inefáveis com a Santíssima Trindade, particularmente com o Eterno Pai; Filha de Deus, Filha do Pai, Filha única e Primogénita; palavras de Bossuet.

II — Quilates do Coração de Maria. 1) criado por Deus para por ele ser amado plenamente como nenhum outro; o melhor instrumento da Santíssima Trindade; 2) à imagem do Coração do Eterno Pai, para que Jesus encontrasse nele um reflexo do amor que lhe tem o Pai; 3) destinado e enriquecido para ser o grande auxiliar do Redentor;  4) correspondência maravilhosa de Maria Santíssima à sua predestinação: a santidade em Maria foi uma questão de Coração.

O CORAÇÃO DA MÃE DE JESUS

I — Nada há mais primacial em Maria que ser Mãe do Verbo Encarnado:       1) Mulier amicta sole; Maria de qua natus est Jesus; 2) o louvor mais excelso do Coração de Maria é ser o Coração da Mãe de Deus; 3) afinidade íntima entre Maria e Deus; unidade de natureza entre o Filho e a Mãe; Jesus mais de Maria do que nenhum filho o é de sua mãe.

II — A medida dos dons celestes proporcionada ao amor que Maria tem a Deus a vice-versa: 1) logo é no Coração maternal da Virgem que encontramos o seu melhor ponto de vista. 2) amor ine­fável a Seu Filho: nemo tam Mater nisi Maria; 3) com especiais encantos e finíssimos ardores, por ser amor virginal; 4) amor mode­lado pelo do Eterno Pai (Terrien); 5) crescendo de instante a instante pelo contacto com o Coração de Seu Filho; Ela é as primícias do Salvador; 6) amava a Jesus como Filha primogénita de Seu sangue, como Esposa única, como Mãe; por isso o Coração de Maria foi o horto de delícias para Jesus.

O CORAÇÃO DE MARIA E O ESPÍRITO SANTO

I — Maria obra-prima do Senhor: 1) logo é o Espírito Santo o Autor desta maravilha, o artista no Seu íntimo, ainda na ordem física e psíquica; 2) Ele o que A enriqueceu de graça: gratia plena; imago bonitatis illius; 3) Ele que lhe infundiu as virtudes teologais e morais, os Seus dons e frutos preciosíssimos, em profusão a que não atingem nem os Bem-aventurados todos juntos; 4) é Ela a melhor mansão do Espírito Santo: Dominus tecum; 5) ninguém mais cheia do Espírito Santo; Ela o suavíssimo perfume desse Divino Espírito.

II — Consumado a delicado instrumento do Espírito Santo: 1) Sua docilidade às lições divinas; 2) sensibilidade e prontíssima em perceber e receber os divinos toques; 3) amor delicadíssimo em aceitar Sua divina acção; 4) por isso, o Seu mais apto instrumento para atrair a Deus as almas.

III  — Na Encarnação atingem culminâncias de infinito as rela­ções de Maria com o Espírito Santo; 1) o facto narrado em S. Lucas, cap. 1, onde se atribui expressamente ao Espírito Santo a obra da En­carnação; 2) Maria Esposa do Espírito Santo; 3) vida da. mais ininterrompida e ardente união com o Espírito Santo.

CORAÇÃO IMACULADO

I — Ser Imaculada: 1) privilégio entre todos estimado por Maria: a Medalha milagrosa, Nossa Senhora das Vitórias, o Escapulário Verde; em Fátima assim se designa a Virgem e assim a designam os Viden­tes: Coração Imaculado; 2) a Liturgia acomodou-se a esta designa­ção, na nova Missa da festa; item Pio XII, na fórmula de consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria; 3) privilégio definido na Bula ineffabilis Deus, de Pio IX, a 8 de Dezembro de 1854, onde em síntese se apontam as razões deste dogma; 4) não é meramente negativo (ausência de mancha), mas altamente positivo: cheia de graça desde o primeiro instante e por isso, singularíssimo e glória suma para Jesus; 5) perfeição desta primeira graça.

II — Coração Imaculável: 1) bula ineffabilis Deus; 2) isenção de toda a mancha actual ou imperfeição deliberada; 3) moralmente impossibilitada de pecar.

CORAÇÃO VIRGINAL

I — A Virgindade de Maria: 1) Dogma de fé (Conc. Later. 649): virgem antes do parto, no parto e depois do parto; 2) excelência desta virgindade no corpo, na alma e nos afectos.

II — Perfeição desta virgindade: 1) tudo o que há de positiva­mente belo na virgindade: o mais perfeito modelo das virgens; 2) toda a vida de Maria, desde o primeiro instante, um voto total a Deus; 3) vir­gindade acima de tudo de amor; virgindade-consagração; 4) virgin­dade que nos mostra a perfeição do Seu amor e faz do Seu Coração e do de Deus um só coração; 5) só Ela uniu aos gozos da maternidade a honra da virgindade.

O MAIS BELO DOS CORAÇÕES

I — Nossa Senhora de Fátima, espectáculo maravilhoso de beleza para os pastorinhos: 1) Sine macula candor lucis aeternae; 2) quem cantará tal beleza? pulcherrima mulierum.

II — Beleza física de Maria: tem a raiz na beleza espiritual de que é participação. 2) nada mais belo depois da Humanidade de Je­sus; 3) é voz unissona da Tradição e da arte cristã.

III — Bela, porque Mãe de Jesus: 1) para haver semelhança entre Mãe e Filho: Christus Matri suae similimus inter omnes filios; Ele é speciosus prae filiis hominum; 2) nondum erant abyssi; Christus cogi­tabatur, logo desde a criação; 3) a Sua estrutura íntima revela-nos um organismo da mais sã compleição; palavras de Garriguet; 4) a suma perfeição de sua alma causa da sua beleza física que atrai e incute pureza em quem A contempla.

CORAÇÃO CONSUMADO EM PERFEIÇÃO

I — Ninguém depois de Jesus mais divinamente consumada em per­feição: 1) Arca da Aliança; Obra-prima do Criador; 2) por mais perto estar da fonte de toda a Beleza e santidade (S. Tomás); 3) pela supe­rabundância da graça recebida; 4) é a doutrina dos Teólogos; Pio IX na bula ineffabilis Deus.

II — Plenitude de graça crescendo sempre: 1) três momentos na graça de Maria: disposição inicial; graça de viadora; graça consumada ao subir ao céu; crescia a de disposição e viadora por novas efusões da liberalidade divina pela recepção dos Sacramentos, pelos actos de ininterrompida e ardentíssima caridade; 2) superando já desde o primeiro instante a graça de todos os bem-aventurados juntos, o que seria no fim? 3) afirmações dos Padres a este respeito.

CORAÇÃO IMACULADO, ÍRIS DE PAZ

I — A vida do homem é uma luta: 1) Job, S. Paulo, S. Tiago; 2) em consequência, guerra nos indivíduos, nas famílias, nas classes, nas nações; 3) contraste com o primeiro estado de inocência.

II — Maria Íris de paz: 1) prometido no Génesis (III, 15) e realizado no meio dos tempos: quae est ista? 2) tudo em Maria se ordena na mais perfeita tranquilidade, por ser imaculada e por isso, integér­rima, impecável: S. João no Apocalipse; 3) por isso, terribilis ut castrorum acies ordinata!

III — Rainha da Paz: 1) porque Mãe de Deus; 2) Corredentora: palavras de Pio X; 3) mais que ninguém interessada junto de Seu Fi­lho para nos obter a paz; Pio X, Pio XII.

CORAÇÃO DE NOSSA MÃE

I — Mãe de Jesus, logo, nossa Mãe também: 1) Ego sum vitis vos palmites: Mãe da Vide, logo dos ramos também; Mãe de todo o Corpo místico de Cristo; 2) Eva e Maria; 3) O Eterno Pai restaurando tudo em Cristo, restaurou-nos com vantagem em Maria a mãe que perdemos em Eva.

II — Promulgação desta maternidade no Calvário: 1) Jesus sabia a quem nos confiava; 2) in quo clamamus: Pater... também clamamus: Mater: 3) fecundíssima virgindade de Maria; 4) com o amor que ama a Seu Filho nos ama a nós; palavras de Pio XI na Lux Veritatis.

CORAÇÃO DOLOROSO DE MARIA

I — Maria Mãe de dor: 1) elemento essencial no estudo do Coração de Maria; à semelhança do Coração de Jesus; os espinhos com que apareceu à Irmã Lúcia; 2) consequência de ser Mãe de Jesus Crucificado e Mãe de pecadores; 3) pela contemplação de Suas dores descobriu a piedade cristã o Seu Coração; 4) Coitadinha de Nossa Senhora! (Jacinta).

II — Toda a vida da Maria foi dor para o Seu Coração: 1) na infância, ida para o Templo, perda dos pais; 2) logo após a Encarna­ção do Verbo, compreendendo as angústias de S. José; 3) ida a Be­lém: os seus não os receberam, nascimento de Jesus num estábulo; 4) profecia de Simeão (Nossa Senhora a Santa Matilde); 5) perda de Jesus no Templo aos doze anos.

III       — O Calvário, momento culminante de Suas dores: 1) Juxta Crucem: junto da Cruz até as rochas estalam; extrema poena, maledictus a Deo qui pendet in ligno; quasi leprosum, vidimus eum et non erat aspectus; 2) Mater ejus: quem contempla este suplício é Mãe do Supliciado: o vos omnes qui transitis per viam...; tota in vulneribus Christi; 3) Jesu: Aquele Seu Filho é Jesus, o Salvador, a Vítima; Maria participa mais que ninguém em todo o sofrimento do Coração de Jesus; Jesus uniu-A a Si como a nenhuma outra vítima, nas profundas imolações e holocaustos do Seu Coração.

CORAÇÃO DA MEDIANEIRA

I — O Coração de Maria, nova oferta mais expressiva e eficaz da Sua mediação: 1) a par com o Coração de Jesus; 2) palavras da Jacinta; 3) Pio XII ao cardeal Secr. de Estado, a 1 de Abril de 1942; 4) a Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria.

II — Mediação incluída na Consagração: 1) resposta do Pontí­fice a um duplo pedido da Cristandade; 2) a Consagração pressupõe a mediação; 3) Maria medianeira desde o Seu fiat; 4) pela Sua imo­lação junto da Cruz; 5) a fórmula da Consagração assim A chama implícita e explicitamente.

III  — Mediação do Seu Coração: 1) é pelo Seu Coração que havemos de solicitar Seus favores; 2) é o Seu Coração que havemos de apresentar ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo para implorar as graças do Céu; 3) di-lo a Jacinta expressamente; 4) o exercício da mediação de Maria é essencialmente exercício de amor, do Coração.

OS SAGRADOS CORAÇÕES DE JESUS E MARIA

I — Inseparáveis um do outro: 1) verdade expressa nas revela­ções de Fátima; 2) os pastorinhos, especialmente a Jacinta, não os separavam na sua devoção; 3) S. Francisco de Sales e S. João Eudes.

II — A jaculatória e a imagem de «Nossa Senhora do Sagrado Coração»:   1) O P. Júlio Chevalier; 2) per Mariam ad Jesum; Leão XIII, a 8 de Setembro de 1894; S. Bernardo.

III — Laços naturais e sobrenaturais entre os dois Corações: 1) Jesus, flor da Virgem Mãe; Maria é quem melhor conheceu, amou, adorou, reparou o Coração de Jesus; 2) é Ela a melhor Mestra desta devoção; é nesta escola que se forma Santa Margarida; B. Cláudio de La Colombière.

CORAÇÃO CHEIO DE BONDADE E MISERICÓRDIA

I — Maria remédio para os males desta hora histórica: 1) Fátima: «só Ela lhe pode valer»; 2) Maria, criada por causa da misericórdia (Santo Anselmo); 3) Maria formada na escola da misericórdia desde a Encarnação do Verbo, na Casa de Nazaré, na vida pública de Jesus, aprendendo d’Ele sobretudo a misericórdia.

II — No Calvário conclui Maria o Seu curso e sai consumada em misericórdia: 1) aí A constituiu Jesus formalmente Mãe de misericór­dia: Ecce filius tuus; 2) para bem se desempenhar desta missão Lhe plasmou O Espírito Santo o Coração; 3) por isso compassiva como ninguém: palavras de Santo Afonso de Ligório; as Bodas de Caná; 4) solícita em acudir a todas as necessidades de Seus filhos: Mater clementissima, Refugium peccatorum, Consolatrix afflictorum, Auxillium Christianorum, Salus infirmorum; 5) sobretudo os pecadores: Terrien, S. Anselmo, S. Afonso.

CORAÇÃO DE RAINHA, RAINHA DOS CORAÇÕES

I — Nossa Senhora Rainha do mundo: 1) como tal se manifesta em Fátima; 2) Pio XII formalmente o afirma na Consagração e sobre­tudo na mensagem por ocasião da coroação de Nossa Senhora de Fá­tima; 3) pedido da Cristandade desde as aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré; não é título novo.

II — Razões desta realeza (sintetiza-as Pio XII na mensagem); 1) razão de antonomásia; 2) porque emparentada com a Santíssima Trindade na ordem hipostática; 3) porque Mãe de Cristo-Rei; 4) porque associada como administra ao Rei dos Mártires; 5) porque Esposa do Espírito Santo.

III — Realeza Material e por isso do Coração; 1) é por ser Mãe que Ela é Rainha; 2) realeza só para benefício dos homens; 3) esta a razão especial porque as nações católicas A aclamam Sua Rainha; sobretudo na conquista dos corações.